segunda-feira, 22 de março de 2010

a visita da família

Este post já é devido há muito tempo, eu sei. Também sei que não se quer dar muita importância à idade que passa, e ao facto de os "cotas" serem cada vez mais "cotas", mas eu realmente gostaria muito de vos mostrar esta fotografia:

Pois esta é a minha família, no dia em que o meu pai fez 50 anos, sentada no gabinete do Secretário-Geral da WOSM. A única coisa que falhou aqui foi o Luc Panissod não estar na vizinhança, que de resto (modéstia à parte) não deixamos a coisa ficar por menos.

Tudo começou com uma surpresa: disseram ao meu pai que as férias seriam na Madeira (para justificar a compra de passagens aéreas), eu fiz uma mini-birra por mais uma vez não me virem visitar à Suíça e a coisa lá se foi compondo, não fosse a minha mãe descoser-se umas semanas antes. Já que a primeira surpresa ficou (quase) pelo caminho, não perdi tempo e organizei uma visita a Genebra (com o pretexto de não terem conhecido a cidade quando lá morei), incluindo uma visita guiada ao Bureau Mundial do Escutismo, onde vimos uma série de iguarias, como:
- todos os departamentos de trabalho do Bureau;
- a pintura original (ou a segunda?) de B.-P. (ao que parece, a primeira está na Baden-Powell House, em Londres);
- uma insígnia mundial que é só e apenas aquela que Neil Armstrong tinha consigo quando pisou a Lua (a propósito, sabiam que 11 dos 12 astronautas que já alguma vez pisaram a Lua foram escuteiros?).
Uma visita inspiradora, com reflexões a chegarem para muuuuitos mais posts. Adiante.

Finda a ronda, seguimos rumo a Kandersteg. Viajar de comboio na Suíça é uma experiência única. Tiram-se centenas de fotos, exclama-se de admiração, tricota-se, dorme-se, enfim... dá para tudo!

O plano era usufruir de tudo o que o centro tinha para oferecer, actividades de montanha, serviço, turismo, tudo incluído. Enquanto eu trabalhava, ora construíram cercas no parque de campismo, ora aproveitavam para fazer umas boas caminhadas (e apanhar uns belos escaldões - quem disse que na Suíça não havia sol?!) pelas montanhas.

A visita a Berna é obrigatória e eles também aproveitaram. Obrigatório é também gozar comigo, que já vivi lá um ano + 4 meses e a única coisa que conheço de Berna é a vista do comboio e a estação central. Mas quando se tem montanhas à volta, para quê ir à cidade?

Nos meus dias, tardes ou manhãs livres, aproveitámos para passar tempo de qualidade em família. Fizemos uma mini-expedição geológica

em que aprendemos todos coisas sobre a composição do material rochoso e da formação das montanhas da Berner Oberland (a região onde se situa Kandersteg) e onde pudemos observar as marcas deixadas pela passagem da água e do tempo (i.e., erosão!) nas rochas (diz o meu pai que nunca viu exemplos tão perfeitos ao vivo - textbook material, chama-lhe ele)

"rita! pára de fazer poses parvas para a máquina e olha só para isto! olha para a força da água!!" (OK, estou a adulterar as legendas, pronto!)

Molhar os pés. É o lugar-comum das férias de verão em família. Mas que tal esta versão do "molha os pés em água que vem do glaciar e vê se aguentas mais do que dois segundos?"

Está claro.

Em família, também aproveitámos para fazer coisas bem turísticas, tais como subir no comboiínho até Jungfraujoch, espertamente designado como Top of Europe, embora seja apenas um miradouro-megalómano plantado no alto de uma montanha, que com mais duas forma um dos maciços montanhosos mais emblemáticos da Suíça que, por sua vez, se situam num dos glaciares mais espectaculares que já vi. Ok, também não vi assim tantos, mas o Aletschgletscher é o maior de todos os Alpes. Estatuto não lhe falta!

O passeio é bonita, e a vista é bonita. No entanto, fiquei com a sensação de que estava numa redoma. Quem calcorreia montanhas, fá-lo pelo desafio que é conquistar algo que não é acessível a todos. Plantar uma estância deste género no topo de uma montanha assim é massificar o acesso a algo que não conquistámos, é como comercializar viagens de helicóptero ao cume do Everest.

Fiquei uns bons minutos especada, a observar a progressão destes alpinistas e a pensar que dava muito mais para estar no lugar deles do que para descer, confortavelmente sentada no comboio, até à "civilização".

Mas isto era um aparte.

Como bons turistas que somos, tirámos as fotos da praxe

e para esticar um bocadinho as pernas, descemos a pé até à vila onde apanharíamos o autocarro de regresso a Kandersteg. Uma senhora descida, diga-se, que nos Alpes a coisa raramente fica por menos.

A semana não ficaria completa sem o Fogo de Conselho, no qual participaram mais dois agrupamentos portugueses, que se encarregaram de levar o ambiente ao rubro! Sim, eu sei que sou portuguesa e que o brio faz-nos dizer estas coisas, mas se eu estivesse a exagerar, porque é que nessa noite, no pub, me vieram perguntar "porque é que os portugueses vivem sempre como se estivessem num jogo de futebol?"

Mas como tudo o que é bom acaba depressa, lá chegou o Domingo e a hora de deixar o pessoal na estação, de volta a casa.

E lá fiquei eu, depois de uma boa semana, triste e abandonada...

... mas não se preocupem, que não durou muito!! Hahaha!

sábado, 6 de fevereiro de 2010

velocidade de cruzeiro

Sem dar conta, já passou mais de um ano desde que soube que ia ser aceite para trabalhar no KISC durante o Verão.

Já fui, já vivi lá um dos melhores Verões de sempre, já voltei. Já terminei uns projectos e comecei outros e ainda não acabei de vos contar tudo o que tinha para contar sobre o Verão.

Há uns dias, escreveu-me um escuteiro do Porto a tirar algumas dúvidas sobre o processo de candidatura para o STS. Fiquei contente por saber que há quem queira desafiar o processo de formação pouco flexível que temos, e arriscar viver das melhores experiências que provavelmente terá. Espero que consiga. Se algum de vocês, que aqui calha de vez em quando, também quiser ir para lá, não hesitem em pedir-me ajuda - tenho o maior gosto em ajudar.

No fim de semana passado, estava na organização de um Encontro científico na Universidade. Veio uma menina ter comigo:
- És a Joana?
- Sou!
- Por acaso não és escuteira?
- Sou...
- Não estiveste em Kandersteg e tens um blog sobre a tua experiência lá?
- Tenho!! (muito espantada)
- Bem me parecia que te conhecia, mas não sabia de onde. Só agora é que me lembrei! Já andei a ver o teu blog, numa altura em que pensávamos ir lá. Deixaste de escrever...
- Pois dexei. Não tenho tido muito tempo, mas ainda tenho lá coisas para pôr. E vocês sempre vão a Kandersteg?
- Bem, eles no início andavam muito entusiasmados, mas depois começaram a fazer contas à vida e a perceber que é preciso trabalhar muito mais do que pensavam, e então começaram a desanimar. Sabes como é difícil pô-los a pensar em projectos a longo-prazo, estão habituados a ter tudo quase de imediato.

Ir a Kandersteg é uma experiência sem igual e deve ser planeada ao pormenor, para se poder usufruir o máximo. Durante o Verão, encontrei grupos que já tinham tudo marcado há muitos meses, mas também encontrei quem chegasse sem saber muito bem o que ia fazer.

E vocês, pensam ir a Kandersteg. Ou já foram? Como está a ser, ou foi, a vossa experiência de preparação?

Partilhem comigo e com todos os que estão interessados em saber mais sobre Kandersteg. Sabem que há um sítio onde o podem fazer? Visitem o espaço do KISC na Ning da Secretaria Internacional!

Quanto a mim, fiquei muito supreendida por ser reconhecida. É bom saber que há gente que pára aqui para ler e que se inspira com as experiências de quem passou uma temporada em Kandersteg. Nos próximos tempos, vou lançar mais algumas peripécias do Verão.

Stay tuned!

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

1 de Agosto - Dia Nacional da Suíça

Cá estou eu, mais uma vez, depois de mais uma temporada de silêncio. Os dias têm-se preenchido sem travões e, aos poucos, Kandersteg vai ficando perdida no tempo, cada vez mais longínqua, como se tivesse sido um sonho. Mas foi bem real. E hoje vou contar-vos sobre o dia mais espectacular e ocupado de todo o Verão, o dia que todos esperam com ansiedade, que se passa semanas e semanas a preparar com reuniões, planos, esquemas, ideias e muito entusiasmo: o dia nacional da Suíça.


O dia mais comprido da época começou bem cedo, muito antes do sol nascer. Antes de acordarmos os hóspedes para um dia cheio de actividades e divertimento, é preciso preparar um pequeno-almoço especial para o Staff, que irá trabalhar muito durante todo o dia. Ovos mexidos, bacon, croissants e frutas, para além das delícias locais que tínhamos todos os dias para o pequeno-almoço. Já vos falei do pequeno-almoço no KISC? Bem, fica para outro dia. É que hoje ainda tenho muito que contar e ainda só vamos no amanhecer de um dia fantástico.

Durante o pequeno-almoço, trocámos a t-shirt cor-de-rosa por uma vermelha com a cruz helvética e tirámos o retrato de família.

E chegou a hora de acordar os hóspedes e começar a preparar tudo para um pequeno-almoço de arrasar. Apresento-vos a nossa equipa especializada em aeróbica.

E sejam bem-vindos ao pequeno-almoço do dia 1 de Agosto no campo de jogos.


Podem servir-se de leite, pão, queijo, fiambre, sumos, iogurtes e cereais. E não se esqueçam de fazer a vossa ração de combate para o almoço. Para ganhar pica para o resto do dia, venham fazer aeróbica com a nossa fantástica equipa de treinadores!

Depois de um frenético pequeno-almoço, filas para fazer sandes, e cerca de 1.600 escuteiros bem alimentados e devidamente exercitados, começámos a arrumar o pequeno-almoço para deixar o campo de jogos livre para o resto do dia.

E que tal este comboio de carroças? Eu deixei escorregar de uma das carroças um tabuleiro de queijos e outro de carnes, mas até aqui, nada de novo, certo? Prometo que não estava a fazê-las andar mais depressa do que o que devia. A sério!
E de volta à cozinha!! Enquanto os nossos hóspedes se divertiam lá fora com as montanhas de actividades que preparámos para eles (que eu nem sei quais são - é o que dá estar sempre enfiada na cozinha!), nós concentrámo-nos na preparação das saladas para um BBQ ao jantar.
Digam olá ao Sang Ho, o fatiador de tomates (a tarefa que eu evitava), enquanto eu lavava alface (a tarefa que ele evitava). Éramos uma boa equipa, nós os dois: complementávamo-nos bem!
Mas nada batia a minha cara metade KISCquiana: a Katherine.

Não me chamasse eu Joana Osório, havia de arranjar uma desculpa para armar confusão com o cabelo. Carnaval com disfarces alusivos à Suíça? Porque não disfarçarmo-nos de quarks que colidem no Large Hadron Collider, em Genève? Ok, ok, de quarks só temos o nome - Strange e Charm - mas se fossem um quark, não seriam assim? Passámos a tarde a recarregar energia para colidirmos uma com a outra e foi uma alegria. Que importa se todos achavam que a gente não batia bem da cabeça? Cientistas? Loucas? Nós? Nah...!
Chato, chato foi pentear o cabelo para aparecer apresentável na cozinha.
Adiante.

Chegada a hora de jantar, servimos BBQ para 800, incluindo Staff.

E depois arrumámos a cozinha. Lavar a loiça dos BBQ era sempre um pesadelo: os pratos plásticos voam na máquina, e a água espirra por todo o lado quando os passamos pela torneira.

Mas a gente sabia sempre tornar o trabalho divertido. Quando era BBQ tínhamos sempre mais gente a ajudar na cozinha e, por consequência, mais alegria.
No fim de arrumar tudo, fardámo-nos e fomos para o campo de jogos.
Numa das poucas vezes em que vestimos a farda, o campo encheu-se com quase 1.600 escuteiros de todo o mundo que relembraram que estávamos todos ali porque B.-P. um dia sonhou que o escutismo seria uma fraternidade mundial
e que Kandersteg havia de ser um sítio onde eles se pudessem encontrar. Um mini-Jamboree permanente.
E o ponto alto da noite veio com o desfile de todos estes escuteiros pela pequena e pitoresca vila de Kandersteg.
A população de Kandersteg tem uma relação muito próxima com os escuteiros. Por vezes, o campo até tem mais escuteiros do que a vila habitantes e os vizinhos envolvem-se, ajudam e aplaudem o centro.
Saem à rua para ver o desfile passar e juntam-se a ele, a caminho do descampado onde está acesa uma fogueira que relembra a fuga dos bárbaros invasores, quando viram o reflexo das fogueiras nos lagos e acharam que tinham chegado à ponta da terra e iriam cair para o vazio.
Depois de um discurso nas línguas oficiais da Suíça, um acolhimento caloroso aos escuteiros e uma pequena intervenção nas mais diversas línguas dos escuteiros, para dar os parabéns à Suíça, fomos brindados com uma actuação de danças folk helvéticas.


E assim chegou ao fim o longo dia 1 de Agosto. Quase 20 horas de muito, muito trabalho, muito movimento, boa disposição, palhaçadas, reflexões, conversas e muito mais.


Para terminar, o Staff voltou ao Centro num autocarro e teve uma bela surpresa à espera no centro: muitas sobremesas e champagne para comemorar um dos melhores dias de toda a temporada.

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

eu vou!


Este fim de semana rumo a sul, para participar no Mercado Internacional. Para além de partilhar um pouco mais da minha experiência como Staff em Kandersteg, vou estar por lá a aproveitar para descobrir o que se faz noutras partes do mundo, a nível escutista, de voluntariado, etc.

Embora já seja um pouco tarde para publicitar (as inscrições estão fechadas), o Mercado Internacional é uma excelente iniciativa da Secretaria Internacional. A edição de 2008 foi um sucesso e o meu Clã que o diga. Inspiraram-se, trabalharam muito, desesperaram ainda mais, mas conquistaram o RoverWay. E quem sabe o que mais irão conquistar?

Depois de tantas histórias, estou curiosa e vou descobrir as surpresas que a SI preparou para nós. Espero trazer de volta muitas propostas e desafios para os "meus" Pioneiros... e quem sabe se não me inspiro para uma nova aventura?!

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Ainda não terminei as histórias por aqui. Ainda tenho que vos contar da festa nacional suíça, da vez em que decidi ir até ao Upper Hut sozinha, da expedição de 2 dias que fizemos e mais algumas coisas. Eu ando por aí e não me esqueci deste espaço, mas a atenção tem estado voltada para outras prioridades. Cada coisa a seu tempo!

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

descer à civilização

Sair do vale de Kandersteg e passar por cidades era, para muitos de nós, um choque. Com a pureza dos ares, a proximidade das montanhas, a simplicidade das gentes e a vista pitoresca da vila, era estranho enfrentar o movimento da cidade, o betão acumulado, o movimento dos carros, e até toda aquela variedade de pessoas que é normal encontrar nas cidades. Às vezes, parecíamos os verdadeiros bichos do mato. Por isso, a maior parte dos nossos dias de folga eram nas montanhas, a fazer caminhadas ou simplesmente a relaxar.

No entanto, houve um dia em que choveu e eu e o Zvo fizemo-nos à cidade de Thun, que fica nas redondezas e tem um castelo. Entre outras coisas, claro está.


Qual não foi a nossa surpresa quando encontrámos a cidade repleta de movimento e... de música! Estava a haver um festival de [bolas, não me consigo lembrar do nome]

um instrumento que se dá à manivela e toca um som que está codificado num sistema de roldanas

engenhocas geniais, e havia-as aos magotes pela cidade. As notas embrulhavam-se na multidão de risos, gente, carros; no movimento da cidade.

Fugidos da balbúrdia, subimos até à colina do castelo. Nele, encontrámos uma exposição sobre o quotidiano histórico de Thun: o modo de vida, o artesanato, a indústria.

Eu fiquei encantada com as casas de bonecas. Verdadeiras obras de arte, com os minuciosos detalhes na decoração e no recheio.


E como se não bastassem obras de arte, ainda apanhámos uma sessão de apresentação ou de esclarecimento sobre grafonolas antigas, numa loja cheia destas preciosidades. Não percebemos nada do que se dizia, mas não era preciso. Bastava ouvir o som que saía de cada uma delas...

E rimo-nos com os cisnes a deixarem-se levar pela corrente e a nadarem contra ela ao último momento.


Com a sensação de que um dia bem passado na cidade pode ser tão bom como um dia nas montanhas, lá voltámos para a vila mágica e mais uma semana árdua de trabalho.