segunda-feira, 9 de novembro de 2009

1 de Agosto - Dia Nacional da Suíça

Cá estou eu, mais uma vez, depois de mais uma temporada de silêncio. Os dias têm-se preenchido sem travões e, aos poucos, Kandersteg vai ficando perdida no tempo, cada vez mais longínqua, como se tivesse sido um sonho. Mas foi bem real. E hoje vou contar-vos sobre o dia mais espectacular e ocupado de todo o Verão, o dia que todos esperam com ansiedade, que se passa semanas e semanas a preparar com reuniões, planos, esquemas, ideias e muito entusiasmo: o dia nacional da Suíça.


O dia mais comprido da época começou bem cedo, muito antes do sol nascer. Antes de acordarmos os hóspedes para um dia cheio de actividades e divertimento, é preciso preparar um pequeno-almoço especial para o Staff, que irá trabalhar muito durante todo o dia. Ovos mexidos, bacon, croissants e frutas, para além das delícias locais que tínhamos todos os dias para o pequeno-almoço. Já vos falei do pequeno-almoço no KISC? Bem, fica para outro dia. É que hoje ainda tenho muito que contar e ainda só vamos no amanhecer de um dia fantástico.

Durante o pequeno-almoço, trocámos a t-shirt cor-de-rosa por uma vermelha com a cruz helvética e tirámos o retrato de família.

E chegou a hora de acordar os hóspedes e começar a preparar tudo para um pequeno-almoço de arrasar. Apresento-vos a nossa equipa especializada em aeróbica.

E sejam bem-vindos ao pequeno-almoço do dia 1 de Agosto no campo de jogos.


Podem servir-se de leite, pão, queijo, fiambre, sumos, iogurtes e cereais. E não se esqueçam de fazer a vossa ração de combate para o almoço. Para ganhar pica para o resto do dia, venham fazer aeróbica com a nossa fantástica equipa de treinadores!

Depois de um frenético pequeno-almoço, filas para fazer sandes, e cerca de 1.600 escuteiros bem alimentados e devidamente exercitados, começámos a arrumar o pequeno-almoço para deixar o campo de jogos livre para o resto do dia.

E que tal este comboio de carroças? Eu deixei escorregar de uma das carroças um tabuleiro de queijos e outro de carnes, mas até aqui, nada de novo, certo? Prometo que não estava a fazê-las andar mais depressa do que o que devia. A sério!
E de volta à cozinha!! Enquanto os nossos hóspedes se divertiam lá fora com as montanhas de actividades que preparámos para eles (que eu nem sei quais são - é o que dá estar sempre enfiada na cozinha!), nós concentrámo-nos na preparação das saladas para um BBQ ao jantar.
Digam olá ao Sang Ho, o fatiador de tomates (a tarefa que eu evitava), enquanto eu lavava alface (a tarefa que ele evitava). Éramos uma boa equipa, nós os dois: complementávamo-nos bem!
Mas nada batia a minha cara metade KISCquiana: a Katherine.

Não me chamasse eu Joana Osório, havia de arranjar uma desculpa para armar confusão com o cabelo. Carnaval com disfarces alusivos à Suíça? Porque não disfarçarmo-nos de quarks que colidem no Large Hadron Collider, em Genève? Ok, ok, de quarks só temos o nome - Strange e Charm - mas se fossem um quark, não seriam assim? Passámos a tarde a recarregar energia para colidirmos uma com a outra e foi uma alegria. Que importa se todos achavam que a gente não batia bem da cabeça? Cientistas? Loucas? Nós? Nah...!
Chato, chato foi pentear o cabelo para aparecer apresentável na cozinha.
Adiante.

Chegada a hora de jantar, servimos BBQ para 800, incluindo Staff.

E depois arrumámos a cozinha. Lavar a loiça dos BBQ era sempre um pesadelo: os pratos plásticos voam na máquina, e a água espirra por todo o lado quando os passamos pela torneira.

Mas a gente sabia sempre tornar o trabalho divertido. Quando era BBQ tínhamos sempre mais gente a ajudar na cozinha e, por consequência, mais alegria.
No fim de arrumar tudo, fardámo-nos e fomos para o campo de jogos.
Numa das poucas vezes em que vestimos a farda, o campo encheu-se com quase 1.600 escuteiros de todo o mundo que relembraram que estávamos todos ali porque B.-P. um dia sonhou que o escutismo seria uma fraternidade mundial
e que Kandersteg havia de ser um sítio onde eles se pudessem encontrar. Um mini-Jamboree permanente.
E o ponto alto da noite veio com o desfile de todos estes escuteiros pela pequena e pitoresca vila de Kandersteg.
A população de Kandersteg tem uma relação muito próxima com os escuteiros. Por vezes, o campo até tem mais escuteiros do que a vila habitantes e os vizinhos envolvem-se, ajudam e aplaudem o centro.
Saem à rua para ver o desfile passar e juntam-se a ele, a caminho do descampado onde está acesa uma fogueira que relembra a fuga dos bárbaros invasores, quando viram o reflexo das fogueiras nos lagos e acharam que tinham chegado à ponta da terra e iriam cair para o vazio.
Depois de um discurso nas línguas oficiais da Suíça, um acolhimento caloroso aos escuteiros e uma pequena intervenção nas mais diversas línguas dos escuteiros, para dar os parabéns à Suíça, fomos brindados com uma actuação de danças folk helvéticas.


E assim chegou ao fim o longo dia 1 de Agosto. Quase 20 horas de muito, muito trabalho, muito movimento, boa disposição, palhaçadas, reflexões, conversas e muito mais.


Para terminar, o Staff voltou ao Centro num autocarro e teve uma bela surpresa à espera no centro: muitas sobremesas e champagne para comemorar um dos melhores dias de toda a temporada.

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

eu vou!


Este fim de semana rumo a sul, para participar no Mercado Internacional. Para além de partilhar um pouco mais da minha experiência como Staff em Kandersteg, vou estar por lá a aproveitar para descobrir o que se faz noutras partes do mundo, a nível escutista, de voluntariado, etc.

Embora já seja um pouco tarde para publicitar (as inscrições estão fechadas), o Mercado Internacional é uma excelente iniciativa da Secretaria Internacional. A edição de 2008 foi um sucesso e o meu Clã que o diga. Inspiraram-se, trabalharam muito, desesperaram ainda mais, mas conquistaram o RoverWay. E quem sabe o que mais irão conquistar?

Depois de tantas histórias, estou curiosa e vou descobrir as surpresas que a SI preparou para nós. Espero trazer de volta muitas propostas e desafios para os "meus" Pioneiros... e quem sabe se não me inspiro para uma nova aventura?!

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Ainda não terminei as histórias por aqui. Ainda tenho que vos contar da festa nacional suíça, da vez em que decidi ir até ao Upper Hut sozinha, da expedição de 2 dias que fizemos e mais algumas coisas. Eu ando por aí e não me esqueci deste espaço, mas a atenção tem estado voltada para outras prioridades. Cada coisa a seu tempo!

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

descer à civilização

Sair do vale de Kandersteg e passar por cidades era, para muitos de nós, um choque. Com a pureza dos ares, a proximidade das montanhas, a simplicidade das gentes e a vista pitoresca da vila, era estranho enfrentar o movimento da cidade, o betão acumulado, o movimento dos carros, e até toda aquela variedade de pessoas que é normal encontrar nas cidades. Às vezes, parecíamos os verdadeiros bichos do mato. Por isso, a maior parte dos nossos dias de folga eram nas montanhas, a fazer caminhadas ou simplesmente a relaxar.

No entanto, houve um dia em que choveu e eu e o Zvo fizemo-nos à cidade de Thun, que fica nas redondezas e tem um castelo. Entre outras coisas, claro está.


Qual não foi a nossa surpresa quando encontrámos a cidade repleta de movimento e... de música! Estava a haver um festival de [bolas, não me consigo lembrar do nome]

um instrumento que se dá à manivela e toca um som que está codificado num sistema de roldanas

engenhocas geniais, e havia-as aos magotes pela cidade. As notas embrulhavam-se na multidão de risos, gente, carros; no movimento da cidade.

Fugidos da balbúrdia, subimos até à colina do castelo. Nele, encontrámos uma exposição sobre o quotidiano histórico de Thun: o modo de vida, o artesanato, a indústria.

Eu fiquei encantada com as casas de bonecas. Verdadeiras obras de arte, com os minuciosos detalhes na decoração e no recheio.


E como se não bastassem obras de arte, ainda apanhámos uma sessão de apresentação ou de esclarecimento sobre grafonolas antigas, numa loja cheia destas preciosidades. Não percebemos nada do que se dizia, mas não era preciso. Bastava ouvir o som que saía de cada uma delas...

E rimo-nos com os cisnes a deixarem-se levar pela corrente e a nadarem contra ela ao último momento.


Com a sensação de que um dia bem passado na cidade pode ser tão bom como um dia nas montanhas, lá voltámos para a vila mágica e mais uma semana árdua de trabalho.

terça-feira, 6 de outubro de 2009

back to business

Estou de volta, como prometido.
Nas últimas semanas, arrumei as minhas bagagens, deixei Kandersteg e a Suíça, aterrei em Portugal. Vi a minha família e alguns amigos, fiz uma caminhada no Gerês, fui acampar para Viana do Castelo, comecei a participar na equipa de animação da IIIª secção do meu agrupamento e comecei as aulas de Doutoramento.

Agora que começo a assentar, voltei para vos contar sobre outras coisas que se passaram em Kandersteg durante o Verão.

Deixei-vos na altura em que a época alta estava ao rubro. Tão ao rubro que eu até me esqueci de tirar fotografias do salão de refeições quando ele enchia quatro vezes para jantar. Nos dias mais caóticos, chegámos a servir 450 pessoas ao jantar.

Mas não deixámos de nos divertir enquanto trabalhávamos.

Era, aliás, assim que íamos animando as longas horas de trabalho.

Embora às vezes houvesse desastres. Os copos, não fui eu que os parti (milagre!), mas eu ainda consegui bater o recorde de desastres quando tentei intoxicar quase 400 pessoas com excesso de pimenta na comida. Perto de 80 eram portugueses...!

Na cozinha, era sempre a maior animação. Com dois LTS a coordenar e sempre 3 ou 4 STS a ajudar, lá íamos cozinhando e limpando e servindo, vezes sem conta. Lidámos com hóspedes de todos os feitios, cometemos erros, fizemos brilharetes. Ao todo, confeccionámos cerca de 95 000 refeições.

Trabalhámos muito, divertimo-nos ainda mais e, assim, contribuímos para enriquecer a experiência alpina de milhares e milhares de escuteiros.

A época alta é tão trabalhosa como gratificante. Ainda não sei bem como o vou fazer, mas quero voltar para o ano.

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

de partida

Cá estou eu, a fazer as malas e a tentar perceber como é que 4 meses passaram tão rápido.
Ainda tenho muito que contar sobre aquilo que deixo para trás e prometo que o farei nas próximas semanas.

Ao mesmo tempo, estou a pensar nos projectos que tenho pela frente. Para além do projecto "principal", aquilo que determinará o rumo dos próximos 3 ou 4 anos, tenho na manga outros projectos e actividades paralelas.

Da mesma forma que quero usar a força que ganhei nas pernas para explorar os nossos montes e serras como explorei estas montanhas, tenho uma nova força para atacar outros projectos e metas de frente.

Também está na altura de retribuir um pouco daquilo que o escutismo me deu durante a vida toda. Por isso, durante os próximos tempos, irei dar uma ajuda à chefia da IIIª Secção do meu Agrupamento. Amanhã não vou estar na primeira reunião do ano, mas estou de mochila aviada para o resto do ano que vem. Pioneiros: até já.

E eu vou continuar por aqui, mas com uma nova base.
Até breve.

quinta-feira, 27 de agosto de 2009

expedição

Só para espevitar a curiosidade...

... na semana que vem vou participar numa "expedição" de dois dias e vou dormir aqui.

O tempo passa depressa e o fim do meu tempo aqui está cada vez mais próximo. Mas antes disso, ainda vou aproveitar muito.

sábado, 22 de agosto de 2009

Não, não estou perdida. Nem tenho gripe A. Nem parti uma perna, um braço ou uma mão.

Estou viva, e bem viva!

Eu sei que não tenho notícias. É que quanto mais faço, menos tempo tenho para contar o que fiz. E acreditem, estas últimas semanas têm sido sempre a pedalar. O número de hóspedes bateu recordes, a quantidade de escuteiros felizes por viverem o sonho de Kandersteg não fica nada atrás.

Durante as últimas duas semanas recebi visitas e todo o meu tempo livre foi para elas.

E que bem ocupados que foram esses dias de folga. Tenho muito para contar, mas agora tenho que me concentrar numa coisa muito importante que irá determinar os próximos três anos.

Em breve voltarei para contar as aventuras das semanas que passaram.

Até já!

sábado, 25 de julho de 2009

bunderspitz

Um dia destes, há bastante tempo atrás, tempo suficiente para arrastar duplamente este post, acordei numa bela manhã de nevoeiro, calcei as botas e as calças de caminhar, peguei em lenços de papel para limpar o meu nariz recentemente constipado e juntei-me a um grupo de americanos como guia secundária.

Começámos por apanhar o teleférico até ao topo de Allmenalp, o mais íngreme da Europa. Tem uma vista impressionante e uma subida vertiginosa, mas quando chegámos ao topo já não conseguíamos ver grande coisa. Só a silhueta de um casal de lamas.

Foi pena o tempo estar tão coberto, pois a vista prometia ser nada menos do que espectacular. A vista de Allmenalp abrange todo o vale de Kandersteg e, com sorte, até Oeschinensee. Naquele dia, tudo o que conseguíamos ver era isto:

Nem o nosso objectivo conseguíamos ver até umas boas duas horas depois de começarmos a andar. Aqui estão eles, ambos cobertos pelas duas nuvens que aparecem na fotografia. No centro, o culminar da nossa subida e, do lado direito, o cume de Bunderspitz.

Lá fomos subindo: eu, uma guia americana e um grupo de adolescentes americanos que vivem numa base militar em Itália. Um deles está a aprender Português só ouvindo falar e conversando e, deixem-me que vos diga, o Português dele não é nada mau!! Olhando para trás, a vista era esta:

A subida é bastante acentuada, mas devagar se vai ao longe. À medida que o tempo vai passando, as subidas custam menos, mas ainda tenho muito que treinar. Ao chegar ao fim da subida mais íngreme, fomo-nos apercebendo da dimensão do cume de Bunderspitz. Pessoas são aqueles pontos minúsculos na imagem que mal se percebem...

E lá fizemos caminho até ao cume, onde a vista era assim:

E cá estamos nós. Que cambada!

Descemos do cume e começamos o caminho até Bunderschrinde, o portal de passagem para o Ueschinen Valley, onde finalmente iríamos almoçar.

Tivemos que atravessar uma colina cujo principal constituinte era pedra e cascalho que escorregava e mandava pedras a rebolar até ao sopé a cada passo que dávamos.

Daquele lado da montanha, as formações rochosas são muito diferentes e fazem padrões engraçados como este.

Eu sei que é uma observação geológica um bocado limitado, não faço a menor ideia como se chama este tipo de pedra e até gostava de saber, mas aquilo que eu acho mesmo interessante é a forma como aparecem padrões na natureza e como podemos apanhá-los com a máquina...

Depois de almoçarmos, fugimos à ventania e começámos a descer o Ueschinen Valley que completaria a rota circular até ao centro. Pela segunda vez durante esta caminhada, tive oportunidade de liderar o grupo. Uma experiência interessante, especialmente quando se é o primeiro a escorregar num poio de vaca e a aterrar de rabo em cima dele.

Adiante.

Cá está o lindíssimo Ueschinen Valley, onde está localizado o Upper Hut, a cabana da montanha que o centro aluga durante o Verão, como base para as nossas actividades.

A descida é longa e íngreme, ao olhar para cima vemos de onde viemos. E vemos tudo à nossa volta, tal como o vale de Gasterntal.

Descemos e descemos, até chegarmos de novo ao vale de Kandersteg e ao centro.

E aqui fica o relato de mais uma caminhada. Não a melhor para fotografias, e não tão espectacular como o Lötschenpass, mas não menos memorável. Mais uma para a conta de muitas, espero.