quinta-feira, 25 de junho de 2009

lotschenpass

Antes de começar, uma nota de aviso: este será um post loooongo. No entanto, merece sê-lo, pois contará a história da caminhada mais espectacular de toda a minha vida.

Como provavelmente já vos terei dito, estas duas semanas foram de formação dos novos STS. Essa formação envolve treinar caminhadas que, no Verão, terão de liderar. Os LTS também podem participar, conta como trabalho, e também podem ser avaliados para poderem liderar as caminhadas quando for preciso.

Eu inscrevi-me na caminhada do Lotschenpass, uma das mais desafiantes que o Programa do Centro oferece. Aqui podem ver uma descrição mais pormenorizada da caminhada.

Depois de servir o pequeno-almoço, encontrámo-nos todos à porta do centro para apanharmos o mini-bus que nos levou até Selden, o princípio da caminhada, no vale de Gasterntal, onde também se pode encontrar a versão alemã mais antiga da Bíblia.

E assim, começámos a caminhar. Aprendemos a usar o KanderPlod, um ritmo de caminhar muito lento, mas bem compassado, que permite subir muito sem ter que fazer muitas paragens para descansar. E subir muito foi o que fizemos.

Como estava um dia solarengo (o termómetro marcou 5ºC de manhã, a temperatura subiu!! Uf, que calor!) toca a pôr protector solar na cara. Ou besuntar, em alguns casos.

E lá subimos nós, monte acima, a partir dos 1552m de Selden até um ponto ainda não avistado. A guiar-nos estava o Andrew, mas o objectivo era que cada um de nós liderasse durante um bocadinho para pôr em prática a teoria aprendida nas sessões sobre alpinismo.

Uma primeira paragem no chalet em Gfällalp, a 1847m de altitude, para beber água, comer qualquer coisa, verificar a carta (reparem quanto branco ela tem!!)

e observar as redondezas, onde se podem ver o vale de Gasterntal, que é atravessado pelo rio Kander que, por sua vez, nasce lá ao fundo, no terceiro maior glaciar da Europa, de seu nome Kanderfirn.

Espectacular, não é? Pois isto, meus amigos, ainda não é nada. Mas continuemos a subir, com passadas bem calculadas e de nariz no ar, para respirar o ar fresco da montanha.

Até chegarmos ao alto daquilo que conseguíamos ver lá em baixo, em Selden: um campo cheio de pedregulhos, e todo um novo panorama, todo um novo objectivo a conquistar.

Embora não se veja muito bem na fotografia, aquele pedacinho de neve lá no alto, bem perto do céu, é o início do nosso glaciar: o Lotschberg. O objectivo é chegar lá acima, atravessar o glaciar, até ao Lotschenpasshutte, um abrigo de montanha.

Ora cá está yours truly, com o glaciar no lado esquerdo da foto, com o pulmão bem esticadinho da subida e da altitude, mas com muita vontade de chegar lá ao alto do glaciar.

Lá começámos a subir outra vez, desta vez uma subida bem mais acentuada que a anterior, cheia de pedras e pedrinhas que deslizam, cada vez mais alto. E tivemos a companhia das ovelhas que andavam por lá a pastar, de focinho preto. Aqui, tropeçam-se em ovelhas, cabras e vacas nos sítios mais inóspitos!

Subir, subir, eu hei-de conseguir... (e o glaciar lá ao fundo)

A meio do caminho, parámos para olhar à nossa volta. Olhámos para baixo, e já só víamos o campo de pedregulhos e nada da subida inicial. Fazendo um zoom na fotografia de cima, consegue-se ter uma percepção da altitude. Se procurarem muito bem, no centro inferior da foto, conseguem ver umas formiguinhas:

O grupo que seguia atrás de nós. Medonho, não é? Melhor do que isso, era olhar para o horizonte e ter uma panorâmica incrível do vale de Gasterntal e uma vista espectacular do glaciar de Kanderfirn:

Tudo muito bonito, mas a subida continua. Até ao nível em que a neve começa a ser uma constante e é exigido outro tipo de equipamento.

Para atravessar um campo de neve, é preciso um ice axe. Uma picareta para o gelo? Não faço a menor ideia como se diz em português e até àquele dia também não fazia a menor ideia para o que servia. Sem ele, no entanto, aquele campo de neve podia estar muito longe do divertimento que foi atravessá-lo e ser um verdadeiro perigo. Antes de o atravessar, aprendemos novas técnicas de segurança em alpinismo e caminhadas no gelo. Para estarmos preparados para o que vinha a seguir.

Ora cá está ele: o Lotschengletscher. Um dos glaciares mais seguros do planeta, muito estável e relativamente fácil de atravessar, com as devidas precauções. Está branquinho porque esteve muito frio nos dias anteriores e caiu neve fresca. Caso contrário, pareceria um parque de estacionamento. Aprendemos que o glaciar rejeita, tal como o sistema imunitário humano, as pequenas rochas que residem no fundo do vale, e é por isso que está cheio de pedras. No entanto, e escavarmos um bocadinho encontramos gelo sólido.

Com neve fresca e fofa, caída no dia anterior, e um dia muito solarengo, precisamente à hora em que o sol está a pique, estão criadas as condições perfeitas para...

Avalanches!!! Esta foi a primeira que vi, e fiquei boquiaberta. Mas depois seguiram-se umas outras 10 e a preocupação passou a ser atravessar o glaciar o mais rapidamente possível. Embora não estivessemos perto da passagem das avalanches, é pouco aconselhável começar a atravessar aquela zona quando de minuto em minuto se ouve um novo estrondo e uma nova queda de pedras, neve e entulho pelos picos abaixo.

Quando já estávamos na parte mais segura do glaciar, pudemos parar para apreciar as redondezas (sim, de novo o vale de Gasterntal, mas desta vez visto de um sítio privilegiado)

Olhar para trás e ver o que tínhamos atravessado (aquele é o grupo que estava atrás de nós)

E fazer algumas palhaçadas na neve. Para alguns, era a primeira experiência na neve.

Atravessado o glaciar, estamos mais ou menos a meio da caminhada. São 13h e o objectivo é chegar ao Lotschenpasshutte o mais depressa possível, para iniciar a descida.

Mas antes disso, ainda é preciso chegar ao Lotshenpass propriamente dito, que é o ponto de passagem entre os vales de Gasterntal e Kandertal e o vale de Lotschental, que já fica noutro cantão (Kandersteg fica no cantão de Berna e o Lotschental já fica no cantão do Valais, seguindo até ao vale do Rhône e os alpes franceses). As histórias de passagens e travessias romanas, comerciais e por aí fora são inúmeras, mas guardo essas para quem se atrever a vir fazer a caminhada comigo.

Agora, o mais importante, era atravessar o ponto de passagem e ainda faltava aquela subida toda, com muita neve, muita inclinação e muitas pedras soltas.

Uma última espreitadela para o Glaciar... e os passos finais até chegar à cabana da montanha.

Ora cá está ela! Aquele edifício escuro no canto esquerdo da fotografia, no meio desta paisagem magnífica, é a cabana onde se pode pernoitar quer para seguir viagem no dia seguinte, ou para experimentar uma subida até ao Hockenhorn (que vou fazer um dia destes, ai vou vou, mas isso já é outra história)!

E isto é o que se vê do outro lado do Lotschenpass: os alpes franceses, e o vale que se encontra mais ao fundo com o vale do Rhône e do Lago Léman.

Uma fotografia de grupo, na cruz que está no topo. Eu sei que tem uma história, mas para ser sincera, estava tão pasmada com a paisagem e a tirar fotografias feita tolinha que nem prestei atenção. Lá vou ter que fazer a caminhada outra vez só para ouvir a história...

E depois de uma bebida quente e reconfortante na cabana da montanha, lá iniciámos a descida

para uma paisagem nova

com outras cores, e sempre a descer. E aquelas manchas de neve? Espectacularidade total é fazer skis das botas e deslizar por ali abaixo. Que risada!

Acabou-se a neve, começámos a sentir um bocado de calor (18ºC, será?) e o verde a predominar. As pernas começam a queixar-se um bocado da descida tão acentuada, mas o objectivo era não perder o autocarro e o comboio de volta para Kandersteg.

Por isso andámos, sempre a descer, pelos trilhos e caminhos, campos de ruibarbo e vaquinhas a pastar
atravessámos um riacho

E finalmente chegámos à aldeia de Ferden, uma típica aldeia rural suíça, onde apanhámos os transportes que nos levaram de volta a casa.

E assim terminou a caminhada mais espectacular de toda a minha vida. Com algumas (surpreendentemente, não muitas) dores musculares, mas num estado de exaltação que ainda dura e só poderá compreender quem for lá cima e fizer o mesmo que eu fiz. Eu ofereço-me como guia. Any day!

9 comentários:

  1. Embora diferentes, não acho que sejam de ignorar as experiências na Peneda-Gerês e noutras serras do Minho...
    P

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  2. Não falei nisso neste post porque não me queria alongar, mas durante essa caminhada pensei muito nisso. A verdade é que aqui as coisas são de muito mais fácil acesso. Por causa disso, pus-me a pensar como se poderiam ultrapassar certos obstáculos que há agora em fazer, por exemplo, uma caminhada (bem diferente, mas não menos espectacular) pelas Minas dos Carris. Tenho algumas ideias na manga e até falei sobre isso com o Andrew, mas isso já é material para outro post, mais bem pensado...

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  3. Se estás na Suiça...falas das tuas experiências da Suiça, e isso não é "ignorar" o país que amamos, é sim vivenciar coisas novas e igualmente enriquecedoras!!! Parabéns mais uma vez, um post aliciante. Apesar de já ter vivido muito o Gerês e continuar a querer sempre lá voltar...quero mesmo muito ir aí visitar-te! Bjs e muitas saudades

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  4. * joana com boca aberta e baba* (há 5 mminutos)

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  5. eu e os meus caminheiros vamos a kandersteg de 31 de agosto a 3 de setembro.
    pode ser a nossa guia.
    SOMOS DE VIEIRA DO MINHO BEM PERTINHO DO GERÊS

    Fernando Castro

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  6. Minha querida..são maravilhosas as fotos duma certa menina que está linda no meio de paisagens encantadoras. nunca mais vais esquecer estas experiências maravilhosas...bjocas

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  7. Olá Fernando, eu sou da Póvoa de Lanhoso, também bem pertinho do Gerês! :)
    Terei todo o gosto em ser vossa guia, tendo em conta duas condições: 1) que eu tenha passado a "avaliação" e 2) que o meu trabalho na cozinha me permita fazer a troca! De qualquer forma, não deixem de me procurar quando estiverem aqui.
    Um abraço e boas preparações. Se precisarem de alguma dica, é só dizer.

    Quanto ao resto do pessoal, já sabem, ao vivo é beeeeem mais bonito ;) (dica, dica!)

    E quanto ao Gerês, tenho umas ideias bem fixas na cabeça desde essa caminhada...

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  8. olha olha somos visinhos, claro que vamos precisar de saber algumas cisinhas, aida bem que encotrei este maravilhoso blog.
    um abraço amigo e uma canhota.

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  9. minha querida...quando te leio (vejo) é sempre um sorriso aliciante que revejo:) és o mundo em pessoa, és o sonho realizado és quem eu julgo ser a mais completa das meninas...viver assim é viver Feliz :) continua a voar a grande altitude, a voar mais alto, a seres a mais completa em todos os teus percursos de vida...a seres ...decidamente tu...lov you my dear....miss you****

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